sábado, 20 de agosto de 2022

Deixemos que o nosso sol brilhe sobre o bom e o mau da mesma maneira.

"Antigamente era da opinião de que o aborto era um assunto apenas dos pais e não era da alçada dos filhos. Mas, através da experiência de muitos, não somente minha, revelou-se que as crianças abortadas pertencem ao sistema, e que o aborto tem uma grande influência sobre os outros filhos. Por isso, os outros filhos devem saber. Entretanto, como devemos dizer isso a eles? Essa é agora a questão. Quando um dos pais, por exemplo, a mãe viu numa constelação qual a influência que as crianças abortadas têm nos outros filhos, ela vai então para casa e diz para eles: ―Eu abortei duas criança, o que ela faz? Ela coloca o fardo sobre os ombros dos filhos. Contudo, se ela permanece em si e assume o que fez, sente a dor e dá um lugar em seu coração às crianças abortadas, então talvez um dia quando eles estiverem sentados à mesa, ela deixe dois lugares livres. Nessa oportunidade, ela diz aos filhos: ―Aqui pertencem mais dois. Eu os abortei. Mas agora eles têm um lugar em meu coração e na nossa família. Essa é a grande diferença.


Há pouco, houve um congresso em Würzburg. Lá havia uma mulher da Ruanda. O marido dela e os filhos haviam morrido no genocídio. Ela estava com uma energia assassina muito forte, assustadora. Aqui se pôde ver: as vítimas assumem a energia dos agressores. Então fiz uma sugestão para a solução do problema entre os Tutsis e os Hutus. Todos os mortos serão enterrados num mesmo cemitério. Ao redor do cemitério vai ser colocado um muro bem alto e as portas fechadas. Nenhum acesso mais. Essa é a solução. Talvez também entre croatas e sérvios. Muitos mortos em ambos os lados, muito ódio. Enterrar todos juntos e fazer luto juntos. Todos eles morreram à toa, por nada. Então tudo precisa ficar no passado, finalmente terminar. Ok?



Gostaria de dizer algo sobre a bênção. O que significa abençoar? No latim significa: benedicere. Isso significa: dizer algo bom. Se eu digo algo de bom sobre alguém e desejo boas coisas para ele, isso atua imediatamente de modo agradável nele. Isso é a bênção. Olhamos para o outro e desejamos algo bom para ele. Se eu vejo dificuldades com um cliente e talvez faço um diagnóstico ou defino o seu problema, como isso atua então no cliente? O contrário da bênção. É uma maldição. No fundo desejo algo mau para ele. Ou se não confio em alguém, por exemplo, quando penso: ―Ele não vai mesmo conseguir e internamente trago motivos pelos quais isso não é possível, é para ele como uma maldição. Existe uma imagem da bênção. Daquilo que conhecemos, da nossa experiência, o que traz mais bênção é o sol. Tudo vem do sol. Contudo tudo o que ele faz é brilhar. Isso é bênção. Deixemos que o nosso sol brilhe sobre o bom e o mau da mesma maneira.

 


Nós dois vamos ao cemitério. Pego você pela mão — ele o pega pela mão — e nós vamos ao cemitério. Então vamos olhar para os túmulos, um após o outro. Lá estão deitados muitos mortos. Nós nos curvamos perante cada túmulo, nós dois — simplesmente assim. — O menino curva-se levemente — E nós desejamos paz a eles. 

MENINO Hum, hum. 

HELLINGER E você diz a eles: ―Eu fico vivo. 

MENINO Eu fico vivo. 

HELLINGER ―Olhem para mim com carinho.

MENINO Olhem para mim com carinho. 

HELLINGER ―Embora vocês estejam mortos, eu vivo.

MENINO Embora vocês estejam mortos, eu vivo. 

HELLINGER ―E eu gostaria de viver por um longo tempo.

MENINO alto E eu gostaria de viver por um longo tempo. 

HELLINGER Sim, e: ―Eu gostaria que muitos outros também vivessem por um longo tempo. 

MENINO Eu gostaria que muitos outros também vivessem por um longo tempo. 

HELLINGER Exato. Então vamos nós dois, de túmulo em túmulo. Sim? Pelo cemitério. Então saímos do cemitério. Saímos através do portão do cemitério e chegamos a uma relva bonita. Lá existem flores maravilhosas. E nós colhemos flores. Sim?

 


Filosofia significa que olhamos para a vida como um todo e esperamos até que ela nos mostre algo. Então concordamos com isso. Aqui, por exemplo, pudemos ver que a morte foi boa para todos. Meu querido amigo Rilke descreve, na primeira elegia a Duíno, o que acontece quando fazemos luto por aqueles que foram afastados cedo. Ele pergunta: ―O que os mortos querem de mim? Eu devo tirar lentamente a aparência da injustiça que algumas vezes impede um pouco o movimento puro de suas almas.‖ A morte precoce não lhes fez injustiça. E eles não perderam nada. Ele descreve ainda o introduzir-se nesse movimento de soltar-se. Por exemplo, que se deixe de lado o próprio nome como um brinquedo quebrado. Tudo desapareceu, tudo. Para onde, não sabemos. Meu outro grande amigo Richard, Wagner é o seu outro nome, fala do esquecimento bem-aventurado. Está no fim, quando o processo da morte termina. O morrer começa somente com a morte. É o início do morrer. A realização de um pouco mais, até que entremos no esquecimento. Como, não sabemos. Contudo, são pensamentos que fazem bem à alma. Aqui também vale: os descendentes somente podem crescer, se aquilo que foi pode ser deixado finalmente em paz e pode ficar no passado. Finalmente. Aqueles que ficam sempre se ocupando com o passado, no fundo não precisam fazer nada. Permanecem sempre crianças, nunca vão crescer. Ocupam-se com um nada a vida toda e morrem então, mas sem sucesso.



O amor fatal O destino vai ao nosso encontro com todos os seres humanos com os quais nos relacionamos. Cada um fica sendo para nós o destino e nós, para ele. Portanto, amor fatal significa que eu amo cada destino que vem de encontro a mim através do outro, que me enriquece através dele, me desafia e me toca também, como também o destino que enriquece o outro através de mim, o desafia e muitas vezes também o toca. Através disso todo encontro com outros seres humanos fica sendo mais do que um simples encontro entre ele e mim. Torna-se um encontro de destinos, que atuam através dele e através de mim: que causa felicidade ou dor, a serviço do crescimento ou da limitação, dando a vida ou tirando-a. Portanto, amor fatal é o último amor, que exige o último, que dá o último e toma o último. Nele crescemos para além de nós. O que isso significa individualmente? Se um outro, do meu ponto de vista, quer fazer algo mau e terrível, não importa de qual maneira, a minha primeira reação a isso é frequentemente que eu quero fazer algo de mau para ele e penso numa compensação, no sentido de vingança. Mas se olho para ele como sendo levado pelo seu destino e reconheço que este destino se torna também o meu destino através dele, então não me coloco mais perante ele apenas como um ser humano. Eu encaro o destino e o amo. Nesse momento me submeto a um poder fatal, me deixo tocar por ele, fico purificado das coisas mesquinhas, fico tocado e fico no amor em tudo. Inversamente posso me tornar para o outro, de alguma forma, em destino que o fere, que o limita e que o obriga à despedida e separação. Então resisto à sensação de culpa que age por egoísmo ou desejos maldosos, porque estou entregue ao destino, dele e meu. Eu também preciso amar este destino como ele é e fico assim através desse destino puro e com a mesma validade. Quem ama o destino assim, o seu próprio e o do outro e sabe que ele sempre se tornará em próprio destino para ele e para mim, está em sintonia com tudo como é. Está tanto conectado quanto direcionado porque é um amor fatal, o seu amor tem grandeza e força.


A agressão é renegar a impotência. 


Depressão aqui significa: eu não olho para um lugar. Atrás dessa depressão esconde-se a agressão. Quando isto vem à luz, ela precisa agir.



Há algum tempo atrás fui até o cemitério. Fui de túmulo em túmulo e olhei para os nomes. Entre duas lápides havia um espaço vazio. Eu pensei comigo: lá jaz talvez alguém sem nome, sem lápide. Então pensei: vou tomar essa pessoa morta em meu coração. Eu me ajoelho e me curvo. Então me vêm recordações, muitas recordações. Fico triste e me pergunto: de onde vem essa tristeza? Então começo a chorar.

(...)

Aqui é um curso de treinamento e vou explicar o que fiz. De certa forma foi um exercício hipnótico. Eu conto uma história minha. Não dirijo a palavra à cliente diretamente. Assim ela não precisa se sentir envolvida. Eu coloco, portanto, algo entre ela e mim. Mas ela não pode fazer outra coisa senão ir comigo até o cemitério. Com isso ela é conduzida para algo que falta. Mas não se diz quem ou o quê. Então entro no sentimento que é necessário para ela. Eu descrevo isso. Eu me recordo, fico triste e começo a chorar. A alma dela acompanha, sem que ela saiba o porquê.



A ajuda para ser bem sucedida precisa ser sistêmica. Isso significa que quando observamos o cliente temos sempre, também, o seu sistema em nosso campo de visão. A psicoterapia tradicional está baseada no fato de que um cliente chega e então é estabelecida uma relação entre o cliente e o terapeuta ou a terapeuta. Se o terapeuta ou ajudante, logo que vê a cliente ou o cliente, vê atrás dele também os seus pais e antepassados, coloca- os em seu coração e internamente se curva perante o destino deles, respeitando-o, e ainda sente atrás de si seu próprio destino e seus próprios pais e antepassados; ele não está mais sozinho e, então, não é mais possível uma relação terapêutica, no sentido acima mencionado. É agora uma relação entre adultos que procuram uma solução e que agem. Essa é a diferença.


 

No final, vê-se que a reconciliação entre a Rússia e a Alemanha e entre soldados alemães e soldados russos é um processo longo. Se alguém quisesse interferir aí, para acelerar isso, seria ruim. Isso seria então as assim denominadas constelações políticas. Elas estão desprendidas dos movimentos da alma. Isso não é possível. Contudo, o que aconteceu aqui tocou a todos. Nós sentimos compaixão pelos russos e pelas vítimas russas e também pelos soldados alemães. Por todos, na verdade. Eles todos têm um lugar em nosso coração, agora. Se todos têm, da mesma maneira, um lugar em nosso coração, ficamos numa posição forte. Estamos conectados com as grandes forças, então, elas atuam através de nós, sem que precisemos fazer muito. Elas atuam através de nossa presença, simplesmente porque estamos ligados a elas. Então somos realmente ajudantes.



Aqui ficou evidente algo de essencial para a solução. O passado pode ser passado somente depois que tivermos feito luto pelos mortos, pelas vítimas e quando também permitimos que os agressores façam luto pelas vítimas. Simplesmente assim. Então se faz uma reverência a eles e se vira para o futuro. Só assim os mortos encontram a sua paz e os vivos ficam livres para o seu futuro. Portanto, o luto é a condição prévia para que algo possa ficar no passado, é também a condição prévia para a reconciliação — o luto conjunto. Contudo, se virarmos novamente em direção aos mortos — alguns querem ainda satisfazer os mortos, por assim dizer, querem talvez se vingá-los — então isso é ruim para todos os envolvidos: tanto para os mortos quanto também para os vivos. É uma realização interna religiosa bem profunda deixar o passado ficar no passado, sem voltar a ele. Contudo, somente depois que tivermos visto o passado, depois que tivermos visto os mortos, depois que tivermos feito uma reverência, eles podem ficar em paz.

 


HELLINGER para o grupo O que pudemos observar aqui é um processo muito importante. Aqui se mostrou uma solução. para a participante O que seria agora a postura de ajuda do ajudante? PARTICIPANTE Retirar-se. 

HELLINGER Que ele fique feliz com isso. Isso é então como uma bênção para a solução que se mostrou. A participante concorda com a cabeça. 

HELLINGER Dessa bênção, dessa alegria a cliente ganha a força para fazer isso no momento certo. Mas se o ajudante disser, ela não vai fazer isso.


 

E não importa o que ela faça, você não precisa se preocupar. Se você for perguntar o que ela fez, se tornará imediatamente mãe para ela. Pesquisar é perigoso. Somente os ajudantes em relações terapêuticas pesquisam. Quando comprei algo no supermercado — algumas vezes compro um abacaxi — a vendedora me dá o abacaxi, eu pago, vou para casa e saboreio a fruta. Se a vendedora mais tarde me perguntar: ―Você gostou do abacaxi?, vocês percebem que isso é estranho? De repente ela faz de mim uma criança e me pergunta com preocupações de mãe. Terapias são negócios, de certa forma. Está bem assim?


Aqui se trata de perceber as diferenças sutis do efeito de determinados pensamentos e de determinadas palavras. Assim ficaremos sensíveis aos efeitos. A diferenciação principal é: fortalece ou enfraquece o cliente? Tudo o que fortalece é bom. O que o enfraquece — isso se percebe imediatamente – não é bom. E também: o que me fortalece e o que me enfraquece? Ou aqui neste caso, pode-se perguntar: em que medida me libera ou não? E libera a cliente ou não? Essas são algumas regras fundamentais. Quando se sabe disso, pode- se encontrar o certo bem depressa, pois o certo é, primeiro, simples e em segundo, quando está certo, não existe outra escolha. Apenas uma coisa é importante.

 

A despedida da transferência é difícil. Vocês sabem por quê? Quem entra na transferência como pai ou mãe, para o cliente, permanece uma criança. Por isso a despedida é tão difícil. Apenas quem está disposto a agir de igual para igual pode-se expor. Algo mais que gostaria de dizer em relação a isso: quem entra na transferência, oferecendo-se ao cliente como mãe, sobretudo como mãe, se colocou numa posição arrogante perante a própria mãe ou pai, pensando: eu posso ajudá-los. Portanto, a arrogância da criança, em relação aos pais, continua na arrogância do ajudante perante o cliente. Vocês percebem que se trata, para cada ajudante, de algo maior, algo que talvez o deixe confuso. Contudo, o resultado é muito bom.


Dentro deste contexto, ainda gostaria de chamar a atenção para algo. Quando se trata de abortos provocados, muitos ajudantes, inclusive eu, têm receio de olhar para isso e interferir, porque isso causa medo. Em relação aos abortos provocados temos, muitas vezes, o desejo de suavizar. Então dizemos talvez: ―Ah, a pobre mulher, ela era ainda jovem‖ ou algo semelhante. Mas a alma não acredita nisso. Ela não se orienta por isso. É claro que um aborto é um assunto dos dois e é da alçada dos dois, da mulher e do homem. Contudo, tem na mulher um efeito muito mais profundo, um efeito muito mais abrangente: ela perde algo de sua alma, a sua alma permanece com as crianças, e ela perde algo de sua saúde. Ela deixa algo de seu corpo com a criança abortada. Através do aborto, ela se desfaz de algo. Se, de alguma forma, formos procurar uma desculpa para o aborto, essa pessoa perde sua dignidade e sua força. Mas se, ao contrário, olhamos isso em sua brutalidade total e deixamos que a mulher diga, por exemplo: ―Eu matei você‖ ou, mais forte: ―Eu assassinei você‖, isso nos choca. Por mais estranho que pareça, o efeito na cliente é liberador. Não é fácil olhar para isso. Existem situações em que a mãe não quer dirigir-se às crianças, de forma alguma, e, assim sendo, a criança fica perdida. Naturalmente que aqui existe o perigo de que o ajudante que se deixa levar por isso, de repente, sinta uma agressão contra essa mulher. Que exclua alguém ou condene. Que esqueça a ajuda que está além do bom e do mau.


Nós somos, do jeito que somos, o destino para outros. E outros se tornam, do jeito que são e porque são do jeito que são, o nosso destino. Talvez vejamos isso de maneira mais intensa no relacionamento de casal. Por que nos sentimos tão atraídos por um outro? Nós nem o conhecemos. Contudo, já existe uma comunidade de destino entre meu destino — isto é, entre aquilo que aconteceu em minha família e aquilo que ainda deve ser colocado em ordem, talvez até muitas gerações atrás — e seu destino e aquilo que talvez ainda tenha que ser colocado em ordem em sua família, muitas gerações atrás. Tivemos aqui um belo exemplo, quando alguém teve que representar um filho e seu pai estava deitado junto a um russo (veja pág. 100 e seguintes). O filho não pôde se esquivar do destino deles. Por isso mesmo ele ajudou os dois a cumprir o destino deles. Ele estava incluído na comunidade de destino dos dois. E isso é grandeza. Ora bolas, que cilada. Aqui se exige o último de nós. O ajudante sabe dessas comunidades de destino, e presta atenção a elas. Imaginem que loucura se alguém julga que pode mudar o destino de alguém, ou interferir nele ou solucioná-lo. Onde ele está, então? Também numa comunidade de destino. Ele a utiliza então para o seu destino. Contudo, não de uma maneira que soluciona, de uma maneira respeitosa, mas de uma maneira que piora e adia a solução ou adia a reconciliação, ao invés de colocá-la à vista. Uma pessoa só pode entender este trabalho — este seria o primeiro passo — e então também fazê-lo adequadamente, quando respeita todos os destinos da mesma maneira. Ele sabe quais as forças poderosas que atuam, além do bom e do mau. Aquele que as olha e eventualmente é atingido por elas deixa-se ser tomado a serviço delas. Somente com essas forças somos grandes e temos força e ajudamos, aparentemente de modo bem modesto, mas atuando de modo violento na profundeza. 


A solução dá certo no final quase sempre com um agressor, não com uma vítima. Os agressores têm o maior medo, não as vítimas. Quando alguém fica com esse tipo de medo, sabe-se que é a energia de agressor


Aqueles que confessam, querem que os outros façam algo. Mas eles mesmos não fazem nada. Logo que alguém os leva a fazer algo, eles próprios, a coisa fica em ordem para os envolvidos.


Aqui fica de novo claro: o agressor precisa de carinho. O destino de um agressor é o destino mais pesado. Ele precisa da maior empatia.


O ajudante é um guerreiro. Tem a energia de um guerreiro, um guerreiro espera até que a coisa fique realmente séria. Uma vez li um livro de Groddeck. Ele disse algo sobre emaranhamentos psicossomáticos sob o ponto de vista psicanalítico. É um livro muito bom. Ele observou as gralhas e as distinguiu. A gralha líder — a alfa — é sempre bem calma. Apenas as outras é que são espalhafatosas. Assim é também com a ajuda. Os que começam a ajudar imediatamente não têm força. Portanto, o que fazemos é observar e ir a uma guerra, na qual se trata do último, isto é, de vida e morte. Na terapia decisiva, na ajuda decisiva trata-se sempre de vida e morte. Então procuramos: quando esse conflito será superado e ganho? Primeiro, olhando- se para a morte do cliente — sem medo. Em uma guerra existem vítimas. Alguns ficam para trás. O ajudante os inclui também em seu campo de visão. Ele sabe que alguns ficam para trás. Se formos nos ocupar com eles, perderemos a guerra. Passamos por cima disso até que o decisivo apareça, seja visto e superado. O guerreiro não é corajoso, é esperto e trabalha estrategicamente. Estratégia significa: como enfraqueço o inimigo? Como tiro a força dele? Talvez também a coragem? Ele enfraquece quanto mais eu espero. Então, no momento decisivo, cai a palavra significativa, a pessoa significativa é introduzida e o passo decisivo é feito. Quando se ganhou a batalha, não se vê mais o ajudante. Ele já se encontra na próxima guerra. Ele perde a festa da vitória. Ele não precisa disso. Porque quem ganhou foram as forças com as quais estava de acordo.


Quando, por exemplo, uma cliente conta: ―Fui estuprada ou ―Sou vítima de abuso, imediatamente somos tentados a tomar partido e ficar de um lado e ir contra o outro. Então não poderemos mais ajudar. Mas se eu vou com o espírito, então vejo os assim denominados agressores no mesmo nível das assim denominadas vítimas. Eu os vejo como seres humanos do mesmo tipo. De origens diferentes, emaranhamentos diferentes, mas com o mesmo direito. Se, então, no momento em que escuto isso me recolho e dou a cada um dos atingidos um lugar em meu coração, de modo igual, estou conectado com o espírito e recebo compreensões e força que levam adiante. Acontece que, atualmente, as Constelações Familiares e aquilo que se desenvolveu dela é atacado. Atacado por aqueles que diferenciam entre agressores e vítimas, que querem, por exemplo, que se persigam os agressores, tornando-se em suas almas, eles mesmos, assassinos. Não é tão fácil suportar tais investidas. Contudo se eu utilizo essa compreensão também em relação a eles, eu também os tomo em meu coração. Também eles estão no espírito. O que eu faço, agindo, é ir com o espírito. Aqui está o futuro. Aqui está aquilo que reconcilia e aquilo que leva a vida adiante.



A reconciliação no espírito Vou fazer uma pequena meditação. Vocês podem fechar os olhos. Primeiro, centrem-se. Quando a alma sofre, onde é que a sentimos no corpo? Nós nos deixaremos conduzir pelo sofrimento da alma para o lugar do corpo, que sofre também. Então vamos com a alma para dentro desse lugar, tornamos uma unidade com ela e tentamos verificar e sentir em que direção ela olha, talvez também para que pessoas ela olha. Talvez uma pessoa para com a qual sentimos culpa ou uma pessoa que foi expulsa ou, ainda, uma pessoa com a qual estamos zangados. Então olhamos em nosso espírito para essa pessoa com amor. Nós esperamos a dádiva que nos é presenteada por essa pessoa ou por essa situação. E tomamos isso em nosso corpo e em nossa alma."


 

em As Ordens da Ajuda de Bert Hellinger

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Respeitar uma coisa significa dizer sim a ela

Quero dizer-lhe algo sobre a sensação de estar completo e sua origem. Essa sensação nasce em mim quando alguém que pertence ao meu sistema ganha seu lugar em meu coração. É isso que realmente significa ―estar completo. Só a partir dessa plenitude é que você está livre para se desenvolver. Enquanto estiver faltando alguém que pertença ao sistema, você se sentirá incompleto.



A festa

Uma pessoa se põe a caminho. Olhando à sua frente, vê ao longe a casa que lhe pertence. Caminha até lá e, ao chegar, abre a porta e entra num espaço preparado para uma festa.

A essa festa comparecem todos aqueles que foram importantes em sua vida. Cada um que vem traz algo, permanece algum tempo — e parte.

Assim vêm para a festa, e cada um deles traz um presente cujo preço integral já pagou, de uma forma ou de outra: a mãe — o pai — os irmãos — um avô — uma avó — o outro avô — a outra avó — os tios e as tias — todos os que cederam lugar para você — todos os que cuidaram de você — vizinhos, talvez — amigos — professores — parceiros —filhos; todos os que foram importantes em sua vida e os que ainda são importantes. E cada um que vem traz algo, permanece algum tempo — e parte. Assim como os pensamentos vêm, trazem algo,

permanecem algum tempo — e partem. Assim como os desejos ou o sofrimento vêm, trazem algo, permanecem algum tempo — e partem. Assim como a vida vem, nos traz algo, permanece algum tempo — e parte.

Terminada a festa, aquela pessoa fica em casa, cumulada de presentes, e com ela só permanecem aqueles a quem convém ficar ainda algum tempo. Ela vai à janela, olha para fora e vê outras casas. Sabe que um dia haverá nelas também uma festa: ela comparecerá, levará algo, ficará algum tempo — e partirá.

Nós também estamos aqui numa festa: trouxemos algo, tomamos algo, ficamos ainda algum tempo — e partimos.



Não se trata de gostar, mas de respeitar, o que significa muito mais.


Aceitar não cabe aqui. Quando você ―aceita uma coisa, você se comporta como se pudesse ao mesmo tempo rejeitar a maneira como ela é.

O essencial é assentir, sem lamentar e sem outros pensamentos. Respeitar uma coisa significa dizer sim a ela como ela é. E respeitar uma pessoa significa: digo sim a ela como ela é, digo sim a seu destino como ele é, e digo sim a seus envolvimentos como eles são. Essa atitude é muito humilde e mantém o distanciamento. Contudo, é justamente no distanciamento que existe dedicação e uma força que atua ocultamente. Somente a pessoa que está em sintonia com o destino pode receber dele, às vezes, a força para revertê-lo.



Sua auto-recriminação não a ajuda em nada. Quem se deprecia, com uma interpretação ou um comentário assim, apenas se prejudica. Não conheço casos em que tenha resultado disso algo de bom. O que você está dizendo é o seguinte: ―Aceite-me, por favor, porque sou tão pequena! Essa atitude aborrece o outro, porque você o coloca numa posição superior e lhe tira a liberdade de ficar em pé de igualdade com você.



Permanecer no presente alivia.



em As Ordens do Amor de Bert Hellinger


terça-feira, 28 de junho de 2022

A imagem faz isso por si. Deve esperar, até que ela produza seu efeito.

Isso não se pode entender totalmente. Você apenas percebe os efeitos e vê uma solução. Quando continua a procurar e finalmente acredita que encontrou todas as causas, apenas imagina que possui alguma coisa, pois todas essas causas acabam se perdendo na obscuridade. Você já viu tudo que necessita para a solução, e tornará a perdê-la se continuar pesquisando.


O bom conhecimento está direcionado para uma realização. Quando quero saber mais do que necessito para ela, o conhecimento atua destrutivamente, tornando-se um substitutivo da ação.

FRANK: A pergunta básica que me ocorre é propriamente a seguinte: se essa constelação está certa, seria correto que os filhos ficassem comigo?

HELLINGER: Naturalmente, é correto.

FRANK: Isso contradiz o que vejo no momento, pois eles parecem estar felizes com a mãe.

HELLINGER: Naturalmente. Sua mulher é, sem dúvida, uma boa mãe. Por conseguinte, você não precisa decider agora coisa alguma. Precisa apenas levar consigo a imagem de que isso é acertado, e então deixar que ela trabalhe por você.

FRANK: Está bom assim.

HELLINGER: A imagem faz isso por você. Você deve esperar, até que ela produza seu efeito. OK?



Um filho não precisa assumir as dívidas de seus pais. Isso é assunto pessoal dos pais e não diz respeito aos filhos.

DAGMAR: Quer dizer que ela pode decidir-se de antemão a não assumir isso?

HELLINGER: Tem toda a liberdade de fazê-lo. Deve agir, porém, de maneira a ficar em paz com os pais. Por isso, pode dizer tranquilamente que assumirá, mas depois da partilha não precisará fazê-lo. E ainda, se uma herança estiver gravada por outra circunstância, por exemplo, por uma injustiça, será melhor que o filho se abstenha de recebê-la. Caso contrário, ficará enredado na fatalidade alheia.



em As Ordens do Amor de Bert Hellinger

segunda-feira, 27 de junho de 2022

A solução consiste em que você se retire disso

A luta de um parceiro para conservar o outro recebe frequentemente sua energia

do medo que a criança sente de perder a mãe. Assim, a exigência de fidelidade não visa tanto à parceira quanto a mãe. Também a fidelidade de um parceiro, principalmente quando envolve abnegação, é a transferência, para o marido ou a mulher, da fidelidade da criança à mãe. Essa fidelidade tem então algo de irreal.

Um exemplo a respeito. Um homem me escreveu que estava noivo, mas sua noiva lhe disse que o amor que sente por ele é apenas uma transferência. Ela deseja ser independente dele e ter também outras relações, porém o rapaz achava que devia ser fiel a ela e aguardar que voltasse para ele. Escrevi-lhe uma carta, mais ou menos nos seguintes termos:

―Você está mostrando à sua parceira uma fidelidade semelhante à que os filhos sentem pela mãe. Por isso o seu sentimento o engana. Ela não merece você.

Ele me respondeu que se sentiu liberado no ato. Desfez-se imediatamente de sua aliança de noivado e sentiu-se disponível para o novo.


Os outros pagaram o preço por sua vida e gostariam de ver que não o fizeram em vão. Portanto, se você toma sua vida pelo preço que outros pagaram por ela e faz dessa vida algo de bom, então eles ficam reconciliados com o preço que lhes custou. Mas se você deixa que sua vida vá mal, então esse preço foi pago em vão.


Solução através do amor. Quando estamos em sintonia com o amor, então podemos ir e m frente.


Isso é o medo. Pois você precisa confiar no outro. Daí resulta também que só devo dar ao outro na medida em que ele possa ou queira retribuir. Se ultrapasso essa medida, ele tem que ir embora. Não devo dar-lhe mais do que ele queira ou possa retribuir. Com isso se estabelece, de antemão, um limite para o dar.


Cada relação começa com a necessidade de renunciar a alguma coisa, porque a medida do dar e do tomar é limitada. Isso vale para qualquer relação. Algumas pessoas buscam uma relação onde a troca seja ilimitada, mas tal relação não existe. Quem abandona essa ilusão expõe-se a uma relação modesta que entretanto, justamente por ser modesta, será também feliz.


Você sabe o melhor caminho para lidar com o tomar e o dar numa relação de casal? É fazer pedidos concretos. Portanto, não dizer: ―Por favor, me ame mais, pois não é concreto, mas sim: Por favor, fique mais meia hora e converse comigo. Então, passada a meia hora, o outro sabe que satisfez o seu pedido. Porém, se você disser: Fique comigo para sempre, ele nunca saberá quando terá satisfeito o seu pedido e se sente excessivamente exigido. São conselhos simples e modestos.


A compaixão exige a coragem de se expor totalmente ao sofrimento.


Um filho não deve imiscuir-se num assunto que diga respeito aos pais. Seja qual for a felicidade ou infelicidade que aconteça entre eles, o filho não deve saber disso. Os pais também não devem dizê-lo ao filho. Se sua mãe lhe disse isso, então você precisa esquecer. E é possível esquecer.

UTE: Ah, sim?

HELLINGER: É uma disciplina espiritual. E possível exercitar o esquecimento, na medida em que interiormente nos retraímos. De repente, aquilo desaparece. Aí você deixa os pais nesse conflito, olha com amor para eles e toma de ambos o que lhe deram.


Isso por um lado. Por outro, uma coisa assim acontece como expiação pela presunção, a presunção de saber o que se passou entre seus pais.


Quando alguém atenta contra a ordem de origem, quando, por exemplo, um filho se arroga o direito de saber e julgar o que se passa entre os pais, ele se coloca acima deles. Sempre que acontecem processos trágicos em sistemas, como acidentes graves, suicídios e coisas semelhantes, trata-se de consequências da transgressão dessa ordem. Alguém em posição posterior colocou-se no lugar de alguém em posição anterior, e consequentemente reage com uma necessidade inconsciente de fracassar, ficar infeliz ou morrer.

A solução consiste em que você se retire disso e agradeça, porque tudo terminou bem e você pode aprender com isso e colocá-lo em ordem.



em As Ordens do Amor de Bert Hellinger


domingo, 26 de junho de 2022

Diversos Tipos de Raiva

 



Há diversos tipos de raiva:

Primeiro: Alguém me agride ou me faz uma injustiça, e eu reajo com indignação e raiva. Essa raiva permite que eu me defenda ou me imponha com energia. Ela me capacita para agir, é positiva e me fortalece. Essa raiva é objetiva e por isso é adequada. Ela cessa logo que atinge seu objetivo.


Segundo: Fico enfurecido e zangado porque noto que deixei de tomar, exigir ou pedir o que eu poderia ou deveria ter tomado, exigido ou pedido. Em vez de me impor, recebendo ou tomando o que me falta, fico enfurecido e zangado com as pessoas de quem não tomei, não exigi ou não pedi, embora eu pudesse ou devesse ter agido dessa maneira. Essa raiva é um substitutivo da ação e a consequência de uma omissão. Ela paralisa, incapacita e

enfraquece, e muitas vezes perdura por longo tempo. De maneira semelhante, a raiva funciona como defesa contra o amor. Em vez de expressar meu amor, fico com

raiva das pessoas que amo. Essa raiva surgiu na infância, em consequência da interrupção de um movimento afetivo. Em situações posteriores semelhantes, essa raiva reproduz a vivência original e dela retira a sua força.


Terceiro: Fico com raiva de alguém porque lhe fiz mal, mas não quero reconhecer isso. Com essa raiva, eu me defendo das consequências dessa culpa e a empurro para a outra pessoa. Também essa raiva é um substitutive da ação. Ela me permite ficar inativo, me paralisa e enfraquece.


Quarto: Alguém me dá tantas coisas grandes e boas, que não consigo retribuir. Isso é realmente difícil de suportar. Então me volto contra o doador e suas dádivas, ficando zangado com ele. Essa raiva se manifesta como recriminação, por exemplo, dos filhos contra os pais. Ela se torna um substitutivo do tomar, do agradecer e do próprio agir. Paralisa e esvazia a pessoa. Ou se manifesta como depressão, que é o outro lado da recriminação.

Também serve de substitutivo para o tomar, o agradecer e o dar. Ela paralisa e esvazia. Essa raiva se manifesta também sob a forma de um luto muito prolongado depois de uma morte ou uma separação, quando fiquei em dívida com essas pessoas no que tange ao tomar e ao agradecer. Essa raiva se manifesta ainda, como no terceiro tipo, se deixei de assumir minha própria culpa e suas consequências.


Quinto: Algumas pessoas têm uma raiva que adotaram de outras contra terceiros. Num grupo, por exemplo, quando um membro reprime sua raiva, depois de algum tempo um outro membro se enraivece, geralmente o mais fraco, que não tem absolutamente nenhum motivo para isso. Nas famílias, esse membro mais fraco é uma criança. Quando, por exemplo, a mãe fica zangada com o pai, mas reprime sua raiva, um filho fica zangado

com ele. O mais fraco frequentemente não se torna apenas sujeito, mas também objeto da raiva. Quando, por exemplo, um subordinado se irrita com seu superior mas reprime sua raiva diante dele, costuma descarregá-la em alguém mais fraco. Ou, quando um homem fica com raiva de sua mulher, mas a reprime diante dela, um filho é castigado por ela. Muitas vezes, a raiva não se desloca apenas de um portador para outro, por exemplo, da mãe para o filho, mas também de um objeto para outro, por exemplo, de uma pessoa forte para uma pessoa fraca. Nesse caso, uma filha que assume a raiva da mãe pelo pai, não dirige essa raiva contra o próprio pai, mas contra alguém mais à sua altura, por exemplo, ao próprio marido. Nos grupos, a raiva adotada não se dirige então contra a pessoa forte que era inicialmente visada — por exemplo, o dirigente do grupo —, mas contra um membro fraco, que se torna o bode expiatório, no lugar do mais forte. Quando agem através de uma raiva adotada, os perpetradores ficam fora de si. Sentem-se orgulhosos e em seu direito, mas agem com uma força e um direito que não lhes pertencem, o que os frustra e enfraquece. Por sua vez, as vítimas dessa raiva adotada se sentem fortes e em seu direito, pois sabem que sofrem injustamente. No entanto, também eles permanecem fracos e seu sofrimento é inútil.


Sexto: Existe uma raiva que é virtude e habilidade: uma força de imposição, alerta e centrada, que responde a emergências e que, com ousadia e saber, enfrenta inclusive o que é difícil e tem poder. Essa raiva é destituída de emoção. Quando é preciso, também inflige algum mal ao outro, sem medo e sem maldade: é a agressão como pura energia. Resulta de uma longa disciplina e de um longo exercício, mas é possuída sem esforço. Essa raiva se manifesta como ação estratégica.



Quero dizer-lhe uma coisa: coragem e cautela tensionam em sentidos contrários, como as extremidades de um arco. Entretanto, o arco é mantido pela corda, que mantém unidas essas extremidades que tensionam em sentidos contrários. Com isso se produz a tensão que impulsiona a flecha para o alvo. Mas a cautela sozinha não gera tensão.



em As Ordens do Amor de Bert Hellinger

sábado, 25 de junho de 2022

Aguardar Encarando

 O essencial é assentir sem lamentar e sem outros pensamentos. Respeitar uma coisa significa dizer sim a ela como ela é. E respeitar uma pessoa significa: digo sim a ela como ela é, digo sim ao seu destino como ele é e digo sim aos envolvimentos como eles são. Essa atitude é muito humilde e mantém o distanciamento. Contudo, é justamente no distanciamento que existe dedicação e uma força que atua ocultamente. Somente a pessoa que está em sintonia com o destino, pode receber dele, às vezes, a força para revertê-lo.


Sua auto-recriminação não ajuda em nada. Quem se deprecia, com uma interpretação ou um comentário assim, apenas se prejudica. Não conheço casos em que tenha resultado disso algo de bom. O que você está dizendo é o seguinte: "Aceite-me, por favor, porque sou tão pequena." Essa atitude aborrece o outro, porque você o coloca numa posição superior e lhe tira a liberdade de ficar em pé de igualdade com você.



Você estragou o que fez com esse comentário e isso já não pode ser desfeito. Muita gente pensa que permanece livre depois do ato. Ninguém é livre depois do ato. Só somos livres antes de cometê-lo.



- Você precisa estar curioso e deixar-se surpreender pelo que venha a mudar espontaneamente, sem atuação e sem intenção de sua parte. Isso requer uma grande força, a força para conter-se. Mas a força que isso lhe custa, flui na direção dos outros.

- Algo está mudando em mim, e é uma boa imagem para mim simplesmente aguardar até que algo aconteça por si mesmo; não afastando essa imagem, mas mantendo-a.

- Aguardar encarando.



em As Ordens do Amor de Bert Hellinger

sexta-feira, 24 de junho de 2022

O Respeito é a única coisa que importa

Pela consumação do amor cria-se, entre o homem e a mulher, um vínculo real. Este, por seus efeitos, é ainda mais forte do que o vínculo real dos filhos aos pais. É absolutamente o mais forte dos vínculos. Separar-se dos pais não traz tanta dor e culpa quanto separar-se de um parceiro a quem se estava ligado. Isso se mostra pelos efeitos.

Muitas pessoas iniciam uma ligação como quem fica sócio de um clube, onde se pode entrar e sair à vontade. Mas isso não é assim. Quem entra, fica vinculado e não pode sair sem dor e sem culpa. Pelo tamanho da dor e pela culpa sentida percebe-se a força que o vínculo tinha ou ainda tem.




Os pais dão aos filhos aquilo que eles próprios são. Por isso, os filhos só podem aceitar seus pais como eles são. 

Cada um precisa tomar seus pais; quando aceita isso, ele os tem e está completo em si mesmo.




Quando as pessoas que cederam seu lugar são conscientemente respeitadas e honradas, não se precisa fazer nada mais. O respeito é a única coisa que importa e tudo o mais é supérfluo.



Descrevendo a coisa, ele a tornou dificil para si mesmo. Poderia ter começado imediatamente a fazê-la em vez de falar de sua dificuldade.



"Eu lhe presto homenagem."




O efeito da reverência não depende do que a outra pessoa diz. Ninguém precisa ser diferente do que foi. Os pais não precisam mudar e ninguém precisa desculpar-se. Cada um pode fazer por si só, tudo o que seja devido, por exemplo, inclinar-se diante dos pais, prescindindo da reação deles. A solução está no ato da própria pessoa.



Algumas pessoas continuam acenando para o velho trem quando o novo já estacionou na plataforma. Mas o amor sem esperanças dura mais.



É no limite extremo que se supera uma crise.



Mesmo quando já sabemos qual é a decisão correcta, é preciso deixar primeiro que as forças se concentrem para a execução.

Durante a guerra, quando acontecia um ataque, era preciso esperar que o inimigo chegasse a uma distância de 50m. Isso não é fácil. É mais fácil atirar quando ele ainda está a 1km, mas com que resultado?



A gente olha o antepassado e diz:

"Eu prendo a respiração por ti." "Eu tenho dores por ti." Etc


"Eu tomo a vida pelo preço que lhe custou."



Solução através do amor. Quando estamos em sintonia com o amor, podemos ir em frente.


Quem dá, sem tomar, diz ao outro "antes você se sinta devedor do que eu", então o outro se aborrece e com razão.



A compaixão exige a coragem de se expor totalmente ao sofrimento.



O bom conhecimento está direccionado para uma realização. Quando quero saber mais do que necessito para ela, o conhecimento atua destrutivamente, tornando-se um substitutivo da ação.



em As Ordens do Amor de Bert Hellinger


quinta-feira, 23 de junho de 2022

Caminhar Transformado

Quem reconhece a própria culpa se fortalece, pois ela se manifesta como força. Quando alguém assume a culpa e suas consequências em lugar de outro, isso o enfraquece, bem como ao outro, pois tira dele a força para fazer algo de bom.



"Eu amo seu pai em você e estou de acordo que se torne como ele."



"Eu sigo você."

"Antes eu do que você."

"Eu morro com você."



O mundo passou por um idade de ouro. As pessoas iam dormir e de manhã o trabalho aparecia feito. Isso durou até que alguém quis saber a razão.



Transferência do sujeito - sentir algo em vez do outro, em nome do outro

Transferência do objeto - transferir a projeção do que o outro sente numa pessoa de nossa própria realidade atual

Quando as pessoas sentem que estão com razão, com verdadeira razão, então existe na maioria dos casos, uma dupla transferência. Quando se trata do próprio direito as pessoas não se empenham tanto quanto no direito alheio.



Não se deve pedir perdão. Quando alguém me pede perdão, empurra para mim a responsabilidade por sua culpa. Da mesma forma, quando alguém se confessa, empurra para o outro as consequências do seu comportamento.

O psicoterapeuta pode resguardar-se dizendo interiormente "não quero saber disso". No ato de perdoar existe sempre um desnível de cima para baixo, que impede uma relação de igualdade. Pelo contrário, se você diz: "sinto muito", você se coloca de frente para o outro. Então você preserva sua dignidade e para a outra pessoa é bem mais fácil ir ao seu encontro do que se você lhe pedir perdão.




Uma vez apareceu um anjo a Jacó. Este agarrou-se ao anjo e o anjo disse "larga-me" e Jacó disse: "não te largarei até que me abençoes". Só então puderam separar-se.



A tristeza própria, se justificada, fortalece. Ela tem muita força. Já a tristeza alheia não serve de nada. Quando alguém chora, os que choram junto se enfraquecem. Só quem chora com razão se fortalece com isso.




Tudo o que é profundamente humano encontra em cada um uma ressonância e o que acontece aqui é sempre profundamente humano. Mas quando você aplica isso a si mesmo de uma forma especial, você age como se tivesse vocação de esponja. Não se deve aplicar isso a si. É importante colocar limites.

Soltar significa caminhar transformado.



em As Ordens do Amor de Bert Hellinger


quarta-feira, 22 de junho de 2022

Coragem de Fazer o Mínimo

Ter coragem de fazer o mínimo.


Comentários servem frequentemente para questionar e evitar a solução. Eu só queria saber como se está sentindo.


A fidelidade perturba a vida.


A prática incomoda a teoria.


O papel da vítima é a mais refinada forma de vingança. Na luta pelo poder, quem vence são as vítimas.


A felicidade dá medo e traz responsabilidade.


O que é significativo para um indivíduo toca a todos. Quando a pessoa reconhece ou resolve algo essencial para si, os demais aprendem junto, como num modelo, sem que precisem trabalhar individualmente esse problema.


Não se trata de gostar, mas de respeitar, o que significa muito mais.


em As Ordens do Amor de Bert Hellinger


quinta-feira, 26 de maio de 2022

A Crazed Girl

"That crazed girl improvising her music.

Her poetry, dancing upon the shore,


Her soul in division from itself

Climbing, falling She knew not where,

Hiding amid the cargo of a steamship,

Her knee-cap broken, that girl I declare

A beautiful lofty thing, or a thing

Heroically lost, heroically found.


No matter what disaster occurred

She stood in desperate music wound,

Wound, wound, and she made in her triumph

Where the bales and the baskets lay

No common intelligible sound

But sang, 'O sea-starved, hungry sea."


William Butler Yeats