sábado, 20 de agosto de 2022

Deixemos que o nosso sol brilhe sobre o bom e o mau da mesma maneira.

"Antigamente era da opinião de que o aborto era um assunto apenas dos pais e não era da alçada dos filhos. Mas, através da experiência de muitos, não somente minha, revelou-se que as crianças abortadas pertencem ao sistema, e que o aborto tem uma grande influência sobre os outros filhos. Por isso, os outros filhos devem saber. Entretanto, como devemos dizer isso a eles? Essa é agora a questão. Quando um dos pais, por exemplo, a mãe viu numa constelação qual a influência que as crianças abortadas têm nos outros filhos, ela vai então para casa e diz para eles: ―Eu abortei duas criança, o que ela faz? Ela coloca o fardo sobre os ombros dos filhos. Contudo, se ela permanece em si e assume o que fez, sente a dor e dá um lugar em seu coração às crianças abortadas, então talvez um dia quando eles estiverem sentados à mesa, ela deixe dois lugares livres. Nessa oportunidade, ela diz aos filhos: ―Aqui pertencem mais dois. Eu os abortei. Mas agora eles têm um lugar em meu coração e na nossa família. Essa é a grande diferença.


Há pouco, houve um congresso em Würzburg. Lá havia uma mulher da Ruanda. O marido dela e os filhos haviam morrido no genocídio. Ela estava com uma energia assassina muito forte, assustadora. Aqui se pôde ver: as vítimas assumem a energia dos agressores. Então fiz uma sugestão para a solução do problema entre os Tutsis e os Hutus. Todos os mortos serão enterrados num mesmo cemitério. Ao redor do cemitério vai ser colocado um muro bem alto e as portas fechadas. Nenhum acesso mais. Essa é a solução. Talvez também entre croatas e sérvios. Muitos mortos em ambos os lados, muito ódio. Enterrar todos juntos e fazer luto juntos. Todos eles morreram à toa, por nada. Então tudo precisa ficar no passado, finalmente terminar. Ok?



Gostaria de dizer algo sobre a bênção. O que significa abençoar? No latim significa: benedicere. Isso significa: dizer algo bom. Se eu digo algo de bom sobre alguém e desejo boas coisas para ele, isso atua imediatamente de modo agradável nele. Isso é a bênção. Olhamos para o outro e desejamos algo bom para ele. Se eu vejo dificuldades com um cliente e talvez faço um diagnóstico ou defino o seu problema, como isso atua então no cliente? O contrário da bênção. É uma maldição. No fundo desejo algo mau para ele. Ou se não confio em alguém, por exemplo, quando penso: ―Ele não vai mesmo conseguir e internamente trago motivos pelos quais isso não é possível, é para ele como uma maldição. Existe uma imagem da bênção. Daquilo que conhecemos, da nossa experiência, o que traz mais bênção é o sol. Tudo vem do sol. Contudo tudo o que ele faz é brilhar. Isso é bênção. Deixemos que o nosso sol brilhe sobre o bom e o mau da mesma maneira.

 


Nós dois vamos ao cemitério. Pego você pela mão — ele o pega pela mão — e nós vamos ao cemitério. Então vamos olhar para os túmulos, um após o outro. Lá estão deitados muitos mortos. Nós nos curvamos perante cada túmulo, nós dois — simplesmente assim. — O menino curva-se levemente — E nós desejamos paz a eles. 

MENINO Hum, hum. 

HELLINGER E você diz a eles: ―Eu fico vivo. 

MENINO Eu fico vivo. 

HELLINGER ―Olhem para mim com carinho.

MENINO Olhem para mim com carinho. 

HELLINGER ―Embora vocês estejam mortos, eu vivo.

MENINO Embora vocês estejam mortos, eu vivo. 

HELLINGER ―E eu gostaria de viver por um longo tempo.

MENINO alto E eu gostaria de viver por um longo tempo. 

HELLINGER Sim, e: ―Eu gostaria que muitos outros também vivessem por um longo tempo. 

MENINO Eu gostaria que muitos outros também vivessem por um longo tempo. 

HELLINGER Exato. Então vamos nós dois, de túmulo em túmulo. Sim? Pelo cemitério. Então saímos do cemitério. Saímos através do portão do cemitério e chegamos a uma relva bonita. Lá existem flores maravilhosas. E nós colhemos flores. Sim?

 


Filosofia significa que olhamos para a vida como um todo e esperamos até que ela nos mostre algo. Então concordamos com isso. Aqui, por exemplo, pudemos ver que a morte foi boa para todos. Meu querido amigo Rilke descreve, na primeira elegia a Duíno, o que acontece quando fazemos luto por aqueles que foram afastados cedo. Ele pergunta: ―O que os mortos querem de mim? Eu devo tirar lentamente a aparência da injustiça que algumas vezes impede um pouco o movimento puro de suas almas.‖ A morte precoce não lhes fez injustiça. E eles não perderam nada. Ele descreve ainda o introduzir-se nesse movimento de soltar-se. Por exemplo, que se deixe de lado o próprio nome como um brinquedo quebrado. Tudo desapareceu, tudo. Para onde, não sabemos. Meu outro grande amigo Richard, Wagner é o seu outro nome, fala do esquecimento bem-aventurado. Está no fim, quando o processo da morte termina. O morrer começa somente com a morte. É o início do morrer. A realização de um pouco mais, até que entremos no esquecimento. Como, não sabemos. Contudo, são pensamentos que fazem bem à alma. Aqui também vale: os descendentes somente podem crescer, se aquilo que foi pode ser deixado finalmente em paz e pode ficar no passado. Finalmente. Aqueles que ficam sempre se ocupando com o passado, no fundo não precisam fazer nada. Permanecem sempre crianças, nunca vão crescer. Ocupam-se com um nada a vida toda e morrem então, mas sem sucesso.



O amor fatal O destino vai ao nosso encontro com todos os seres humanos com os quais nos relacionamos. Cada um fica sendo para nós o destino e nós, para ele. Portanto, amor fatal significa que eu amo cada destino que vem de encontro a mim através do outro, que me enriquece através dele, me desafia e me toca também, como também o destino que enriquece o outro através de mim, o desafia e muitas vezes também o toca. Através disso todo encontro com outros seres humanos fica sendo mais do que um simples encontro entre ele e mim. Torna-se um encontro de destinos, que atuam através dele e através de mim: que causa felicidade ou dor, a serviço do crescimento ou da limitação, dando a vida ou tirando-a. Portanto, amor fatal é o último amor, que exige o último, que dá o último e toma o último. Nele crescemos para além de nós. O que isso significa individualmente? Se um outro, do meu ponto de vista, quer fazer algo mau e terrível, não importa de qual maneira, a minha primeira reação a isso é frequentemente que eu quero fazer algo de mau para ele e penso numa compensação, no sentido de vingança. Mas se olho para ele como sendo levado pelo seu destino e reconheço que este destino se torna também o meu destino através dele, então não me coloco mais perante ele apenas como um ser humano. Eu encaro o destino e o amo. Nesse momento me submeto a um poder fatal, me deixo tocar por ele, fico purificado das coisas mesquinhas, fico tocado e fico no amor em tudo. Inversamente posso me tornar para o outro, de alguma forma, em destino que o fere, que o limita e que o obriga à despedida e separação. Então resisto à sensação de culpa que age por egoísmo ou desejos maldosos, porque estou entregue ao destino, dele e meu. Eu também preciso amar este destino como ele é e fico assim através desse destino puro e com a mesma validade. Quem ama o destino assim, o seu próprio e o do outro e sabe que ele sempre se tornará em próprio destino para ele e para mim, está em sintonia com tudo como é. Está tanto conectado quanto direcionado porque é um amor fatal, o seu amor tem grandeza e força.


A agressão é renegar a impotência. 


Depressão aqui significa: eu não olho para um lugar. Atrás dessa depressão esconde-se a agressão. Quando isto vem à luz, ela precisa agir.



Há algum tempo atrás fui até o cemitério. Fui de túmulo em túmulo e olhei para os nomes. Entre duas lápides havia um espaço vazio. Eu pensei comigo: lá jaz talvez alguém sem nome, sem lápide. Então pensei: vou tomar essa pessoa morta em meu coração. Eu me ajoelho e me curvo. Então me vêm recordações, muitas recordações. Fico triste e me pergunto: de onde vem essa tristeza? Então começo a chorar.

(...)

Aqui é um curso de treinamento e vou explicar o que fiz. De certa forma foi um exercício hipnótico. Eu conto uma história minha. Não dirijo a palavra à cliente diretamente. Assim ela não precisa se sentir envolvida. Eu coloco, portanto, algo entre ela e mim. Mas ela não pode fazer outra coisa senão ir comigo até o cemitério. Com isso ela é conduzida para algo que falta. Mas não se diz quem ou o quê. Então entro no sentimento que é necessário para ela. Eu descrevo isso. Eu me recordo, fico triste e começo a chorar. A alma dela acompanha, sem que ela saiba o porquê.



A ajuda para ser bem sucedida precisa ser sistêmica. Isso significa que quando observamos o cliente temos sempre, também, o seu sistema em nosso campo de visão. A psicoterapia tradicional está baseada no fato de que um cliente chega e então é estabelecida uma relação entre o cliente e o terapeuta ou a terapeuta. Se o terapeuta ou ajudante, logo que vê a cliente ou o cliente, vê atrás dele também os seus pais e antepassados, coloca- os em seu coração e internamente se curva perante o destino deles, respeitando-o, e ainda sente atrás de si seu próprio destino e seus próprios pais e antepassados; ele não está mais sozinho e, então, não é mais possível uma relação terapêutica, no sentido acima mencionado. É agora uma relação entre adultos que procuram uma solução e que agem. Essa é a diferença.


 

No final, vê-se que a reconciliação entre a Rússia e a Alemanha e entre soldados alemães e soldados russos é um processo longo. Se alguém quisesse interferir aí, para acelerar isso, seria ruim. Isso seria então as assim denominadas constelações políticas. Elas estão desprendidas dos movimentos da alma. Isso não é possível. Contudo, o que aconteceu aqui tocou a todos. Nós sentimos compaixão pelos russos e pelas vítimas russas e também pelos soldados alemães. Por todos, na verdade. Eles todos têm um lugar em nosso coração, agora. Se todos têm, da mesma maneira, um lugar em nosso coração, ficamos numa posição forte. Estamos conectados com as grandes forças, então, elas atuam através de nós, sem que precisemos fazer muito. Elas atuam através de nossa presença, simplesmente porque estamos ligados a elas. Então somos realmente ajudantes.



Aqui ficou evidente algo de essencial para a solução. O passado pode ser passado somente depois que tivermos feito luto pelos mortos, pelas vítimas e quando também permitimos que os agressores façam luto pelas vítimas. Simplesmente assim. Então se faz uma reverência a eles e se vira para o futuro. Só assim os mortos encontram a sua paz e os vivos ficam livres para o seu futuro. Portanto, o luto é a condição prévia para que algo possa ficar no passado, é também a condição prévia para a reconciliação — o luto conjunto. Contudo, se virarmos novamente em direção aos mortos — alguns querem ainda satisfazer os mortos, por assim dizer, querem talvez se vingá-los — então isso é ruim para todos os envolvidos: tanto para os mortos quanto também para os vivos. É uma realização interna religiosa bem profunda deixar o passado ficar no passado, sem voltar a ele. Contudo, somente depois que tivermos visto o passado, depois que tivermos visto os mortos, depois que tivermos feito uma reverência, eles podem ficar em paz.

 


HELLINGER para o grupo O que pudemos observar aqui é um processo muito importante. Aqui se mostrou uma solução. para a participante O que seria agora a postura de ajuda do ajudante? PARTICIPANTE Retirar-se. 

HELLINGER Que ele fique feliz com isso. Isso é então como uma bênção para a solução que se mostrou. A participante concorda com a cabeça. 

HELLINGER Dessa bênção, dessa alegria a cliente ganha a força para fazer isso no momento certo. Mas se o ajudante disser, ela não vai fazer isso.


 

E não importa o que ela faça, você não precisa se preocupar. Se você for perguntar o que ela fez, se tornará imediatamente mãe para ela. Pesquisar é perigoso. Somente os ajudantes em relações terapêuticas pesquisam. Quando comprei algo no supermercado — algumas vezes compro um abacaxi — a vendedora me dá o abacaxi, eu pago, vou para casa e saboreio a fruta. Se a vendedora mais tarde me perguntar: ―Você gostou do abacaxi?, vocês percebem que isso é estranho? De repente ela faz de mim uma criança e me pergunta com preocupações de mãe. Terapias são negócios, de certa forma. Está bem assim?


Aqui se trata de perceber as diferenças sutis do efeito de determinados pensamentos e de determinadas palavras. Assim ficaremos sensíveis aos efeitos. A diferenciação principal é: fortalece ou enfraquece o cliente? Tudo o que fortalece é bom. O que o enfraquece — isso se percebe imediatamente – não é bom. E também: o que me fortalece e o que me enfraquece? Ou aqui neste caso, pode-se perguntar: em que medida me libera ou não? E libera a cliente ou não? Essas são algumas regras fundamentais. Quando se sabe disso, pode- se encontrar o certo bem depressa, pois o certo é, primeiro, simples e em segundo, quando está certo, não existe outra escolha. Apenas uma coisa é importante.

 

A despedida da transferência é difícil. Vocês sabem por quê? Quem entra na transferência como pai ou mãe, para o cliente, permanece uma criança. Por isso a despedida é tão difícil. Apenas quem está disposto a agir de igual para igual pode-se expor. Algo mais que gostaria de dizer em relação a isso: quem entra na transferência, oferecendo-se ao cliente como mãe, sobretudo como mãe, se colocou numa posição arrogante perante a própria mãe ou pai, pensando: eu posso ajudá-los. Portanto, a arrogância da criança, em relação aos pais, continua na arrogância do ajudante perante o cliente. Vocês percebem que se trata, para cada ajudante, de algo maior, algo que talvez o deixe confuso. Contudo, o resultado é muito bom.


Dentro deste contexto, ainda gostaria de chamar a atenção para algo. Quando se trata de abortos provocados, muitos ajudantes, inclusive eu, têm receio de olhar para isso e interferir, porque isso causa medo. Em relação aos abortos provocados temos, muitas vezes, o desejo de suavizar. Então dizemos talvez: ―Ah, a pobre mulher, ela era ainda jovem‖ ou algo semelhante. Mas a alma não acredita nisso. Ela não se orienta por isso. É claro que um aborto é um assunto dos dois e é da alçada dos dois, da mulher e do homem. Contudo, tem na mulher um efeito muito mais profundo, um efeito muito mais abrangente: ela perde algo de sua alma, a sua alma permanece com as crianças, e ela perde algo de sua saúde. Ela deixa algo de seu corpo com a criança abortada. Através do aborto, ela se desfaz de algo. Se, de alguma forma, formos procurar uma desculpa para o aborto, essa pessoa perde sua dignidade e sua força. Mas se, ao contrário, olhamos isso em sua brutalidade total e deixamos que a mulher diga, por exemplo: ―Eu matei você‖ ou, mais forte: ―Eu assassinei você‖, isso nos choca. Por mais estranho que pareça, o efeito na cliente é liberador. Não é fácil olhar para isso. Existem situações em que a mãe não quer dirigir-se às crianças, de forma alguma, e, assim sendo, a criança fica perdida. Naturalmente que aqui existe o perigo de que o ajudante que se deixa levar por isso, de repente, sinta uma agressão contra essa mulher. Que exclua alguém ou condene. Que esqueça a ajuda que está além do bom e do mau.


Nós somos, do jeito que somos, o destino para outros. E outros se tornam, do jeito que são e porque são do jeito que são, o nosso destino. Talvez vejamos isso de maneira mais intensa no relacionamento de casal. Por que nos sentimos tão atraídos por um outro? Nós nem o conhecemos. Contudo, já existe uma comunidade de destino entre meu destino — isto é, entre aquilo que aconteceu em minha família e aquilo que ainda deve ser colocado em ordem, talvez até muitas gerações atrás — e seu destino e aquilo que talvez ainda tenha que ser colocado em ordem em sua família, muitas gerações atrás. Tivemos aqui um belo exemplo, quando alguém teve que representar um filho e seu pai estava deitado junto a um russo (veja pág. 100 e seguintes). O filho não pôde se esquivar do destino deles. Por isso mesmo ele ajudou os dois a cumprir o destino deles. Ele estava incluído na comunidade de destino dos dois. E isso é grandeza. Ora bolas, que cilada. Aqui se exige o último de nós. O ajudante sabe dessas comunidades de destino, e presta atenção a elas. Imaginem que loucura se alguém julga que pode mudar o destino de alguém, ou interferir nele ou solucioná-lo. Onde ele está, então? Também numa comunidade de destino. Ele a utiliza então para o seu destino. Contudo, não de uma maneira que soluciona, de uma maneira respeitosa, mas de uma maneira que piora e adia a solução ou adia a reconciliação, ao invés de colocá-la à vista. Uma pessoa só pode entender este trabalho — este seria o primeiro passo — e então também fazê-lo adequadamente, quando respeita todos os destinos da mesma maneira. Ele sabe quais as forças poderosas que atuam, além do bom e do mau. Aquele que as olha e eventualmente é atingido por elas deixa-se ser tomado a serviço delas. Somente com essas forças somos grandes e temos força e ajudamos, aparentemente de modo bem modesto, mas atuando de modo violento na profundeza. 


A solução dá certo no final quase sempre com um agressor, não com uma vítima. Os agressores têm o maior medo, não as vítimas. Quando alguém fica com esse tipo de medo, sabe-se que é a energia de agressor


Aqueles que confessam, querem que os outros façam algo. Mas eles mesmos não fazem nada. Logo que alguém os leva a fazer algo, eles próprios, a coisa fica em ordem para os envolvidos.


Aqui fica de novo claro: o agressor precisa de carinho. O destino de um agressor é o destino mais pesado. Ele precisa da maior empatia.


O ajudante é um guerreiro. Tem a energia de um guerreiro, um guerreiro espera até que a coisa fique realmente séria. Uma vez li um livro de Groddeck. Ele disse algo sobre emaranhamentos psicossomáticos sob o ponto de vista psicanalítico. É um livro muito bom. Ele observou as gralhas e as distinguiu. A gralha líder — a alfa — é sempre bem calma. Apenas as outras é que são espalhafatosas. Assim é também com a ajuda. Os que começam a ajudar imediatamente não têm força. Portanto, o que fazemos é observar e ir a uma guerra, na qual se trata do último, isto é, de vida e morte. Na terapia decisiva, na ajuda decisiva trata-se sempre de vida e morte. Então procuramos: quando esse conflito será superado e ganho? Primeiro, olhando- se para a morte do cliente — sem medo. Em uma guerra existem vítimas. Alguns ficam para trás. O ajudante os inclui também em seu campo de visão. Ele sabe que alguns ficam para trás. Se formos nos ocupar com eles, perderemos a guerra. Passamos por cima disso até que o decisivo apareça, seja visto e superado. O guerreiro não é corajoso, é esperto e trabalha estrategicamente. Estratégia significa: como enfraqueço o inimigo? Como tiro a força dele? Talvez também a coragem? Ele enfraquece quanto mais eu espero. Então, no momento decisivo, cai a palavra significativa, a pessoa significativa é introduzida e o passo decisivo é feito. Quando se ganhou a batalha, não se vê mais o ajudante. Ele já se encontra na próxima guerra. Ele perde a festa da vitória. Ele não precisa disso. Porque quem ganhou foram as forças com as quais estava de acordo.


Quando, por exemplo, uma cliente conta: ―Fui estuprada ou ―Sou vítima de abuso, imediatamente somos tentados a tomar partido e ficar de um lado e ir contra o outro. Então não poderemos mais ajudar. Mas se eu vou com o espírito, então vejo os assim denominados agressores no mesmo nível das assim denominadas vítimas. Eu os vejo como seres humanos do mesmo tipo. De origens diferentes, emaranhamentos diferentes, mas com o mesmo direito. Se, então, no momento em que escuto isso me recolho e dou a cada um dos atingidos um lugar em meu coração, de modo igual, estou conectado com o espírito e recebo compreensões e força que levam adiante. Acontece que, atualmente, as Constelações Familiares e aquilo que se desenvolveu dela é atacado. Atacado por aqueles que diferenciam entre agressores e vítimas, que querem, por exemplo, que se persigam os agressores, tornando-se em suas almas, eles mesmos, assassinos. Não é tão fácil suportar tais investidas. Contudo se eu utilizo essa compreensão também em relação a eles, eu também os tomo em meu coração. Também eles estão no espírito. O que eu faço, agindo, é ir com o espírito. Aqui está o futuro. Aqui está aquilo que reconcilia e aquilo que leva a vida adiante.



A reconciliação no espírito Vou fazer uma pequena meditação. Vocês podem fechar os olhos. Primeiro, centrem-se. Quando a alma sofre, onde é que a sentimos no corpo? Nós nos deixaremos conduzir pelo sofrimento da alma para o lugar do corpo, que sofre também. Então vamos com a alma para dentro desse lugar, tornamos uma unidade com ela e tentamos verificar e sentir em que direção ela olha, talvez também para que pessoas ela olha. Talvez uma pessoa para com a qual sentimos culpa ou uma pessoa que foi expulsa ou, ainda, uma pessoa com a qual estamos zangados. Então olhamos em nosso espírito para essa pessoa com amor. Nós esperamos a dádiva que nos é presenteada por essa pessoa ou por essa situação. E tomamos isso em nosso corpo e em nossa alma."


 

em As Ordens da Ajuda de Bert Hellinger