"Os prisioneiros
culpados ou não
têm sempre o mesmo ar quando são libertados:
patriarcas destronados.
Aquele acabou de atravessar o portão
de cabeça pendida apesar de não ser alto
gestos como os de um beduíno
ao entrar na tenda
que acartou às costas o dia inteiro.
Cortinas de algodão, paredes de pedra, o cheiro a lima queimada
fazem-no recuar ao momento
em que a guerra fria terminou.
No outro dia penduraram o seu lençol no pátio
como se a ostentar a mancha de sangue
após uma noite de núpcias.
Rostos deslustrados pelo sol
rodeiam-no, só olhos e ouvidos:
«Com que é que sonhaste ontem à noite?»
Os sonhos de um prisioneiro
são pergaminho
sacralizado pelos seus trechos em falta.
A irmã está ainda a descobrir os seus hábitos estranhos:
os pedaços de pão escondidos em bolsos e debaixo da cama
o rachar incessante da lenha para o inverno.
Porquê este medo?
O que poderá ser pior do que a vida na prisão?
Ter escolhas
mas ser-se incapaz de escolher."
Luljeta Lleshanaku
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