segunda-feira, 27 de junho de 2022

A solução consiste em que você se retire disso

A luta de um parceiro para conservar o outro recebe frequentemente sua energia

do medo que a criança sente de perder a mãe. Assim, a exigência de fidelidade não visa tanto à parceira quanto a mãe. Também a fidelidade de um parceiro, principalmente quando envolve abnegação, é a transferência, para o marido ou a mulher, da fidelidade da criança à mãe. Essa fidelidade tem então algo de irreal.

Um exemplo a respeito. Um homem me escreveu que estava noivo, mas sua noiva lhe disse que o amor que sente por ele é apenas uma transferência. Ela deseja ser independente dele e ter também outras relações, porém o rapaz achava que devia ser fiel a ela e aguardar que voltasse para ele. Escrevi-lhe uma carta, mais ou menos nos seguintes termos:

―Você está mostrando à sua parceira uma fidelidade semelhante à que os filhos sentem pela mãe. Por isso o seu sentimento o engana. Ela não merece você.

Ele me respondeu que se sentiu liberado no ato. Desfez-se imediatamente de sua aliança de noivado e sentiu-se disponível para o novo.


Os outros pagaram o preço por sua vida e gostariam de ver que não o fizeram em vão. Portanto, se você toma sua vida pelo preço que outros pagaram por ela e faz dessa vida algo de bom, então eles ficam reconciliados com o preço que lhes custou. Mas se você deixa que sua vida vá mal, então esse preço foi pago em vão.


Solução através do amor. Quando estamos em sintonia com o amor, então podemos ir e m frente.


Isso é o medo. Pois você precisa confiar no outro. Daí resulta também que só devo dar ao outro na medida em que ele possa ou queira retribuir. Se ultrapasso essa medida, ele tem que ir embora. Não devo dar-lhe mais do que ele queira ou possa retribuir. Com isso se estabelece, de antemão, um limite para o dar.


Cada relação começa com a necessidade de renunciar a alguma coisa, porque a medida do dar e do tomar é limitada. Isso vale para qualquer relação. Algumas pessoas buscam uma relação onde a troca seja ilimitada, mas tal relação não existe. Quem abandona essa ilusão expõe-se a uma relação modesta que entretanto, justamente por ser modesta, será também feliz.


Você sabe o melhor caminho para lidar com o tomar e o dar numa relação de casal? É fazer pedidos concretos. Portanto, não dizer: ―Por favor, me ame mais, pois não é concreto, mas sim: Por favor, fique mais meia hora e converse comigo. Então, passada a meia hora, o outro sabe que satisfez o seu pedido. Porém, se você disser: Fique comigo para sempre, ele nunca saberá quando terá satisfeito o seu pedido e se sente excessivamente exigido. São conselhos simples e modestos.


A compaixão exige a coragem de se expor totalmente ao sofrimento.


Um filho não deve imiscuir-se num assunto que diga respeito aos pais. Seja qual for a felicidade ou infelicidade que aconteça entre eles, o filho não deve saber disso. Os pais também não devem dizê-lo ao filho. Se sua mãe lhe disse isso, então você precisa esquecer. E é possível esquecer.

UTE: Ah, sim?

HELLINGER: É uma disciplina espiritual. E possível exercitar o esquecimento, na medida em que interiormente nos retraímos. De repente, aquilo desaparece. Aí você deixa os pais nesse conflito, olha com amor para eles e toma de ambos o que lhe deram.


Isso por um lado. Por outro, uma coisa assim acontece como expiação pela presunção, a presunção de saber o que se passou entre seus pais.


Quando alguém atenta contra a ordem de origem, quando, por exemplo, um filho se arroga o direito de saber e julgar o que se passa entre os pais, ele se coloca acima deles. Sempre que acontecem processos trágicos em sistemas, como acidentes graves, suicídios e coisas semelhantes, trata-se de consequências da transgressão dessa ordem. Alguém em posição posterior colocou-se no lugar de alguém em posição anterior, e consequentemente reage com uma necessidade inconsciente de fracassar, ficar infeliz ou morrer.

A solução consiste em que você se retire disso e agradeça, porque tudo terminou bem e você pode aprender com isso e colocá-lo em ordem.



em As Ordens do Amor de Bert Hellinger


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