“Diogo fez uma pausa profunda. Olhou-a assim, como sempre a sonhara, como sempre a tinha guardado nos seus pensamentos. Sabia agora que nada tinha sido fútil, no longo caminho que o trouxera até ali. E, portanto, não havia mais lugar para dissimulações. Podia tudo perder ou tudo ganhar, podia até não saber se tudo queria perder ou ganhar. Mas chegava ao fim uma caminhada, a travessia de um oceano, longos dias e longas noites de saudades sepultadas na cumplicidade do travesseiro. Tudo isso chegara ao fim, agora: fosse qual fosse o desfecho, nada mais continuaria suspenso para sempre. Ele falaria e ela escolheria o futuro de ambos. Suspirou fundo, tranquilo com a sua consciência: poucos homens dariam tanto a uma mulher, poucos seriam tão fiéis aos seus sentimentos.
- Não me posso casar contigo, face à lei e à Igreja porque sou casado, como sabes. Mas, em tudo o resto, serás a minha mulher.
- E porquê?
- Porquê?
- Porquê que eu serei tua mulher em tudo o resto?
- Porque te amo.
Ela distendeu-se, enfim. Abriu os braços para ele e nesse momento exacto, ele soube que por mais anos que vivesse, nunca esqueceria esse instante em que ela o chamou e se lhe entregou.
- Vem cá! Tanto tempo que lhe esperei!”
Miguel Sousa Tavares
em "Rio Das Flores"
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